quarta-feira, 15 de julho de 2009

Crônicas Livres

PILEQUILIDADES
de PAULO PELLOTA

Outro dia estava num botequim esperando alguns amigos para uma cerveja de fim de tarde e enquanto aguardava fiquei vendo, sem muita atenção, a indefectível televisão. Depois de algum programa feminino ou infantil, não me recordo bem, entrou no ar um telejornal, em que pus um pouco de reparo.
Um empresário falou nas condições de competitividade, um comercial exaltou a estabilidade de certo automóvel e o policial rodoviário discorreu sobre as más condições de visibilidade e de dirigibilidade. Quem extrapolou foi mesmo o secretário de turismo de uma cidade litorânea, quando falou sobre suas praias: excelente condição de balneabilidade!
Eu, nessa esperabilidade, resolvi exercitar a botequinilidade e, pedindo mais uma cerveja, diversos guardanapos de papel e uma caneta, comecei a escrever estas besteiralidades, não tendo elas nenhum objetivo maior que não a ironibilidade.
Logo chegou o Alfredo, um dos integrantes da mesa, da informal mesa de bar. Quis ver o que eu escrevia, mas lhe pedi um tempo para ver se saía mais alguma coisa. Enquanto chegava seu whisky, eu ia rabiscando mais alguns garranchos. Em seguida, encostaram o Zezo e o Antenor. Um pediu uma caipirinha e o outro um Campari com tônica, então registrei que a cachaça e o Campari têm boas condições de drinquebilidade (ou seria coquetibilidade?).
Mais algumas cervejas me obrigaram a ir ao banheiro. Muitos dizem que é um excelente diurético, mas quero crer que a cerveja tem mesmo propriedades de mictabilidade. Exercitamos nossa papofuralidade e nossa petiscalidade (sugestão do Alfredo) com alguns pastéis, embora o Zezo insistisse que em Minas deveria se chamar tiragostalidade, era mais fino. Penso eu que estava havendo uma acepipalização dos quitutes, mas deve ser obra da casticilização do idioma.
O Antenor quis contribuir falando em cagalidades, mas foi considerado grosseiro. Ficou olhando para o teto e coçando a cabeça, pensando em algo mais delicado.
Ao Alfredo, advogado, foram questionados os termos tecnicalidade, tecnicidade, culpabilidade (como contraponto, há inocentibilidade?) e outras palavralidades jurídicas que não cheguei a catalogar.
O Zezo pediu uma cerveja junto comigo, já que sua caipirinha terminara e ele considerava que já fora suficiente a dose de adstringibilidade dada pelo limão.
Quanto à cerveja, estava num grau de gelabilidade que era uma beleza.
Em meio à felicidade provocada pela pequena etilicidade, o que nos causou grande risibilidade, pedimos a conta e até esquecemos de perguntar pela possibilidade de sua pindurabilidade. Fomos encerrar a noite na pizzaria em frente, ponderando que era das melhores, já que a mescla da boa farinalidade do trigo e a adequada fornabilidade da lenha proporcionava muito boas condições para o perfeito desempenho da pizzabilidade.

- Por Ronaldo

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